por Maria Celia Malta Campos
Cada etapa de desenvolvimento está ligada a uma modalidade de brincadeira, do bebê ao adulto. Assim, promover oportunidades para brincar em todas as idades, é assegurar um desenvolvimento saudável e a plena realização das potencialidades de cada indivíduo. No entanto, a interação social entre as pessoas por meio de jogos e brincadeiras está perdendo espaço na sociedade atual e isto é uma situação muito preocupante.
Em relação às crianças e jovens, Isso acontece não só pela oferta de jogos eletrônicos e do grande marketing em torno deles. O tempo de brincar vem sendo ocupado por atividades dirigidas e por tarefas escolares, às vezes excessivas e precoces (haja vista a carga de ensino formal que está sendo colocada para as crianças de 5/ 6 anos que agora ingressam no Ensino Fundamental), quando não concorre com o trabalho material mesmo, entre as populações mais carentes.
Vale fazer algumas distinções nesse terreno conceitual tão complexo e interdisciplinar como é o brincar, a brincadeira e o jogo. De acordo com estudiosos do tema, como Kishimoto, da Faculdade de Educação da USP, brinquedo e brincadeira relacionam-se com a criança e não se confundem com jogo. Esse comporta uma "grande família" e é usado por adultos também, além de serem sempre metáforas de situações humanas. Na verdade, estendendo o conceito, pode-se chamar de jogo todo processo metafórico.
O homem brinca e joga em todas as idades porque sua natureza é simbólica, ele necessita fazer esse trânsito entre o material e o imaterial, de viver o “como se”, para se relacionar com a natureza, com o transcendente, consigo mesmo. Ao fazer isso, o Ser Humano realiza sua essência de Ser criativo, produtor e usuário de cultura, seja uma criança, um adolescente ou um adulto.
Brincar é a primeira forma de participar e de produzir cultura. Nas brincadeiras, a criança se expressa, vive sua cultura e a reproduz. Ao brincar, a criança dialoga com a sociedade e com o outro, representando as funções dos diferentes papéis sociais do mundo adulto. Ela vai se apropriando de sua cultura e das relações sociais de forma ativa, transformando, recriando, experimentando.
E o jogo de regras, como entender seu valor? O jogo sempre foi visto como divertimento, distração, passatempo, como oportunidade de socialização. Na verdade é essa a sua verdadeira natureza e deve a todo custo permanecer assim, como uma atividade cujo fim é ela mesma. Huizinga (em Homo Ludus, ed. orig. 1938) descreveu o jogo como uma atividade voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotada de um fim em si mesma, acompanhada de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana (ter caráter fictício). Caillois (Os jogos e os homens, ed. orig. 1958) sublinhou sua dimensão imprevisível, cujo desfecho não se pode determinar, dependente que é da capacidade de inventar do jogador.
O jogo, para o brinquedista, será um meio precioso para favorecer o desenvolvimento da pessoa, em seus diversos aspectos: afetivos, relacionais e cognitivos, incluindo as habilidades de planejamento e de execução. Porém, isso não poderá impedir de que o jogo seja um fim para a criança, o jovem, o adulto ou o idoso. Proporcionar esse equilíbrio entre fins e meios requer muito cuidado e sutileza. O contexto lúdico e prazeroso precisa ser preservado a todo custo: concorrer, enfrentar o desafio, explorar estratégias, tomar decisões, buscar as melhores jogadas e, sobretudo, o melhor resultado, o de superar o oponente e ganhar. O jogo perde seu caráter de espontaneidade e se esvazia no seu potencial de exploração e invenção se ele se torna uma obrigação ou se é usado com finalidade de instrução e/ou de moralização.
O enfoque que a ABBRi propõe para o ambiente da brinquedoteca é o da liberdade e da espontaneidade, onde o jogo é o mediador da atividade da pessoa e não o profissional brinquedista diretamente. No entanto, este profissional faz uma mediação essencial, ao selecionar os jogos e propô-los ao seu público. Para tanto, ele deve conhecer as necessidades de desenvolvimento em cada estágio evolutivo e identificar o que mobiliza a atividade lúdica de um bebê, uma criança de Educação Infantil, um menino do Fundamental, um adolescente de Secundário ou um adulto.