Autores: Antonete Araújo Silva Xavier, Flávia Ribeiro Gregório de Oliveira, Hanna Lemos Tourinho, Joselaine Aparecida Bueno Silva, Júlia Alves dos Santos Castro, Luciene Soares de Carvalho, Marta Souza Anjos, Pedro Nogueira de Marins, Rafaela Augusta Coelho Diniz Peixoto, Ronilda Rodrigues da Silva Oliveira, Thaís Cristina Cardoso da Silva.
A RELEVÂNCIA DA BRINQUEDOTECA NO ÂMBITO ESCOLAR
A importância do brincar na vida das crianças tem sido, há tempos, conhecida internacionalmente, evidenciada na Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, onde consta que, para se ter uma infância feliz, “A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras, os quais deverão estar dirigidos para a educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício desse direito “(7º Princípio). As garantias legais que constam na Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) foram promulgadas e adotadas pela ONU – Organização das Nações Unidas, e consideradas na elaboração do texto da Constituição Federal Brasileira (1988), expressa em seu Art. 227. A partir de então, o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) foi elaborado com a missão de ser garantias máximas dos direitos desse grupo, onde estabelece em seu artigo 16, o direito a “brincar, praticar esportes e divertir-se”.
Peters (2009), destaca o papel da instituição escolar no processo de garantia de direitos do brincar, mas, ressalta que a escola foi construída historicamente e socialmente nas lutas de poder, o que a torna local de disciplinarização e normatização. Suas regras de conduta, convivência, e questões burocráticas que determinam o seu funcionamento reforçam o seu papel de constitutivas de sujeitos e lugar de apropriação cultural. Entretanto, é também um espaço passível de mudanças, que objetivem principalmente respeitar ainda mais os direitos da criança, inclusive o tão importante e significativo direito ao brincar. A brincadeira correlacionada ao processo de aprendizagem e entendida como atividade lúdica, é definida por Cunha como:
O lúdico desenvolve as habilidades da criança de forma natural, pois brincando aprende a socializar-se com outros alunos, desenvolve a motricidade, a mente, a criatividade, sem cobrança ou medo, mas sim com prazer (CUNHA, 2008, p. 11).
Portanto, o ato de brincar proporciona para os alunos a aquisição de conhecimentos inéditos, possibilitando assim as inúmeras habilidades necessárias para que possa crescer com o prazer da brincadeira que tanto estimula a criança no desenvolvimento infantil.
O Projeto Brinquedoteca Escolar justifica-se pela importância do ato de brincar no desenvolvimento da criança dentro do contexto escolar e o uso eficaz desta atividade lúdica em um espaço adequado para esta prática. Devendo este ser um lugar convidativo a explorar, a sentir, a experimentar. Um ambiente com cores nas paredes e mobiliário, tendo à disposição brinquedos e jogos de forma organizada, que contribuam para o interesse da criança por esse espaço, pois estas atividades estão cada vez mais escassas no cotidiano do aluno, devido a inserção da tecnologia e ao seu tempo insuficiente.
Deste modo, acreditamos na possibilidade de trabalhar o ato de brincar em um espaço que oportunize esta prática, a brinquedoteca escolar: um ambiente que atenderá a necessidade crescente de proporcionar às crianças um espaço para estimular o desenvolvimento da criatividade, expressividade e sociabilidade tão escassas durante o período pandêmico. Esse pensamento nos remete a refletir acerca de como as crianças voltarão às escolas na pós-pandemia e a respeito das ações que a gestão pública e coordenadores educacionais tomarão diante desta realidade. Nesta perspectiva, nós, formados BRINQUEDISTAS pela ABBri, temos a missão de defender o direito ao brincar das crianças e não existe lugar mais propício do que a escola.
Diante da proposta de implantação de brinquedotecas nas unidades de ensino municipais, é necessário haver uma preocupação com a organização do ambiente, tendo uma atenção com a disposição do mobiliário, de forma que haja flexibilidade no espaço e na composição dos objetos (acervo) a serem oportunizados às crianças, tendo um controle criterioso do estoque do acervo, com catalogação do mesmo, controle de entrada e da saída e, mais que decisivo, o profissional que compreenda a importância da organização do espaço, do acervo, que procure manter vivas as linhas do projeto. O espaço e a disposição dos brinquedos devem promover o livre acesso da criança e os brinquedos devem oferecer segurança, bem como encantá-las, oferecendo um real convite para brincar.
O projeto estruturou-se para atender crianças na faixa etária de 4 a 10 anos, em uma ampla sala, composta por oito espaços lúdicos assim descritos: a) canto do “faz de conta”, b) canto das fantasias, c) canto do teatro, d) canto da leitura, e) canto dos jogos, f) canto com brinquedos diversos, g) canto das invenções, h) canto de pesquisa dos professores, composto por acervo de referências bibliográficas voltados ao tema da ludicidade. Como forma de trabalhar a sustentabilidade, promovendo a educação ambiental dos alunos, sugere-se neste projeto o uso de materiais não estruturados, na construção de jogos e brinquedos, que podem ser confeccionados pelos próprios alunos. Quanto ao atendimento da brinquedoteca, este se dará seguindo o calendário e a grade curricular, em dias letivos, conforme horários pré-estabelecidos, em consonância com o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Interno de cada estabelecimento de ensino.
Pensar no projeto arquitetônico da brinquedoteca, é imaginar além de um local onde se brinca. É um espaço onde a criança ocupa, se relaciona, dá sentido e aprende diante das possibilidades que esse ambiente apresenta. Trocas, vivências e ações coletivas são potencializadas durante todo o tempo vivido na brinquedoteca. Concluímos então, com um layout para construção desse espaço educativo, que proporcione a flexibilização no ambiente e que privilegie o brincar e as relações infantis de forma ampliada e enriquecedora.
A missão do Projeto Brinquedoteca Escolar é promover o brincar como percursor de aprendizados, experiências e desenvolvimento integral da criança, através da promoção na qualidade das relações com a escola e a cultura lúdica, com a visão de assegurar à criança o direito básico: brincar, ter uma infância feliz, como garantia para todos com a promoção, valorização e preservação desse direito, tendo sempre como norteador os valores de respeito à criança, sustentabilidade, segurança, garantia de direitos fundamentais, promoção da ludicidade e diversidade.
Este projeto tem como objetivo estabelecer parcerias com as Secretarias de Educação Municipais, construindo projetos comuns que vislumbram uma melhor qualidade de assistência social à comunidade infantil, assim como, estabelecer parceria com empresas investidoras locais.
Implantar uma brinquedoteca escolar está além de criar um espaço lúdico infantil. É implantar em cada escola participante, experiências oriundas do brincar, que impulsionam todos os sujeitos envolvidos a repensar práticas e desconstruir fazeres que fundamentam de modo reprodutivo e repetitivo, ao longo da história, a prática pedagógica e sobretudo, o olhar para a infância. Vimos, que há uma necessidade cada vez mais urgente de compreensão do brincar para os profissionais de educação, famílias e comunidades; a importância do reconhecimento do brincar como fonte de aprendizagens não só para as crianças, mas para todos os adultos também envolvidos e; o mais importante, o brincar como direito garantido para as crianças – sujeitos de direitos. Faz-se necessário a conscientização de que, ao brincar, a criança não está apenas imitando ou reproduzindo comportamentos, mas, dando significado real para si mesma, a todo tempo, de ser no mundo.